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OS PAIS E A ESCOLA
OS PAIS E A ESCOLA

OS PAIS E A ESCOLA

Quando pensamos no processo de ensino-aprendizagem, devemos levar em conta, pelo menos, três aspectos: o papel dos pais e responsáveis, o papel da escola e ambos os papéis inseridos historicamente no mundo. No Colégio PM, por exemplo, estimulamos a participação da família na vida escolar, pois tal interesse é muito importante para o desenvolvimento dos alunos.

Para refletir sobre o primeiro item, a questão familiar, peço licença ao leitor para retomar uma notícia que li recentemente em um jornal da cidade sobre uma indenização financeira obtida na justiça por uma filha alegando abandono afetivo. Na publicação, alguns especialistas afirmaram que a falta dos pais não afeta o desenvolvimento da criança, se ela tiver uma figura masculina ou feminina suprindo a necessidade de atenção.

Gostaria de trazer à luz a consideração do filósofo, médico e psicólogo francês Henri Wallon, para quem o ser humano é “geneticamente social”, sendo que o homem é um “todo empírico”, portanto, constrói sua identidade na interação de sua constituição genética com a própria realidade que o cerca. Segundo a obra do pensador, não podemos considerar que a constituição do individuo é fruto de apenas uma ou duas de suas constituições psicológicas, bem como não podemos afirmar de forma displicente que esse ou aquele sujeito é assim porque cognitivamente ou emocionalmente é “diferente” (ou outro adjetivo). Sendo assim, ao entendermos o desenvolvimento da mente humana, precisamos considerá-lo em seus aspectos múltiplos: cognitivo, afetivo, emocional, motor e por aí vai…

Em uma análise determinista, abordando apenas um dos aspectos, estaremos colocando esse sujeito em sério risco de evidência discriminatória. Feita essa consideração, voltemos à notícia do jornal: vejo com ressalvas a afirmação de que, simplesmente, uma figura masculina/feminina possa suprir o papel dos pais. É preciso estar envolvido no processo de constituição, construir uma interação social que não vem apenas por estamentos ou decretos (e isso serve também para os pais biológicos que não assumem a sua responsabilidade participando da educação e aprendizagem de seus filhos).

Conforme acontece o desenvolvimento infantil, seus questionamentos vão se aprimorando, quase sempre causados pelo fenômeno do espelhamento em relação às outras crianças, sendo que dúvidas comuns começam a surgir: “por que ele pode fazer tal coisa e eu não?”, “por que eu sou diferente?” etc. Nesse sentido, com base no mesmo fenômeno, também aprendemos os primeiros sinais de socialização humana e isso acontece na relação com seus criadores.

Expostos os aspectos teóricos acima, pergunto: o que houve conosco? O que aconteceu com o diálogo entre pais e filhos? Será que, em nome da “certeza” de que temos tudo a um simples toque de uma tecla, perdemos o rumo? Penso que não! O homem é um ser histórico e, portanto, um sujeito que aprende e ensina o seu tempo. Precisamos olhar e aprender como abordar e explicar suas necessidades. Pais devem ser pais – e não abrir mão desse papel. Estes são responsáveis diretos pelos primeiros aspectos na construção da personalidade de seus filhos, sendo que a escola vem em paralelo, com a responsabilidade de apresentar o conhecimento acadêmico, como um laboratório para a vida, contribuindo para proporcionar sentido e significado.

Este artigo não tem como objetivo apresentar respostas, mas provocar uma reflexão sobre as responsabilidades no processo de ensino-aprendizagem. E, se a simples leitura não lhe provocou essa sensação, convido-o a parar cinco minutos e olhar à sua volta para ver a atual realidade sob o seguinte pensar: quem ensinou-os a fazer tudo que estão fazendo agora? Sem juízo de valor, precisamos urgentemente praticar a tolerância do diálogo. Os pais e a escola não devem temer falar com seus filhos e alunos. Ouvi-los e estabelecer uma relação marcada por regras é o primeiro passo para a convivência harmoniosa. O conflito existe e haverá enquanto formos humanos, contudo, cabe a nós não permitir que isso evolua para um confronto. Não temos o direito de esmorecer!

Por Prof. Ms. José Antonio Lima
Diretor do Colégio PM – Unidade Santo André
Mestre em Psicologia da Educação, Historiador e Pedagogo

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